A Covid-19 não é apenas uma doença respiratória. Hoje em dia, sabe-se que ela não se limita aos pulmões e tem diversas repercussões no organismo, com ataques ao intestino, aos rins, ao cérebro e ao coração. No músculo cardíaco, a doença tem uma ação direta e indireta. O vírus pode se alojar ali e devastar as células do órgão. Além disso, a infecção gera uma resposta desmedida do sistema imune. Isso, por sua vez, leva a um estado de inflamação que prejudica o funcionamento de várias partes do corpo (entre elas, o próprio sistema cardiovascular).
Pesquisas realizadas ao redor do mundo calculam que até 16% dos pacientes com coronavírus apresentam algum tipo de complicação cardíaca. Segundo o Instituto do Coração (Incor) de São Paulo, em 7,2% pacientes internados em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) há dano no miocárdio, arritmia em 16,7%, choque em 8,7% e insuficiência cardíaca em 23%. E esses danos independem do grau da doença: mesmo os quadros mais leves podem trazer prejuízos ao sistema cardiovascular.
O problema é que, muitas vezes, não há sintoma algum e a pessoa só vai sentir suas consequências ao exigir um trabalho extra do sistema cardiovascular. Isso ocorre, por exemplo, durante uma atividade física: o coração precisa bater mais para bombear sangue aos músculos e, se tiver com algum dano provocado pela Covid-19, pode funcionar mal e até pifar.
Por isso, pessoas que foram infectadas pelo coronavírus devem marcar uma consulta com um cardiologista. O profissional vai analisar o quadro de acordo com a gravidade da infecção, fazer um exame físico no consultório e pedir alguns testes complementares. Se os resultados estiverem ok, a pessoa está liberada para retomar os treinamentos. Caso apareça alguma alteração, é importante aguardar mais um pouco. Geralmente o paciente precisa ficar entre três e seis meses de repouso e fazer algumas reavaliações nesse meio-tempo para ver como a situação evolui. No entanto, mesmo quem não teve sequelas cardíacas deve ir devagar no retorno aos exercícios físicos, pois o corpo perde condicionamento quando passa um tempo parado.
Vale reforçar também os cuidados básicos contra o coronavírus. Procure fazer exercícios em casa ou em lugares abertos, como parques, praças e clubes, com boa circulação de ar, sempre usando máscara e mantendo uma distância mínima de 2 metros dos outros praticantes de exercícios. Por fim, lave as mãos com água e sabão e desinfete objetos que vá utilizar no treino com álcool em gel ou álcool 70%. E, se durante ou após o exercício, você sentir muito cansaço e estiver com palpitação, falta de ar ou dor no peito, consulte um profissional de saúde novamente.